Projeto vai monitorar o esgoto de seis capitais do Brasil. No DF, além da Caesb a parceria conta com FAPDF, UnB e ANA
Atualmente, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) trata 100% do esgoto coletado em 7,4 mil quilômetros de suas redes, que atendem 90,9% da população do DF. Tal cobertura permitiu à Caesb, desde setembro do ano passado, coletar amostras de esgoto bruto para análise nos laboratórios da Universidade de Brasília (UnB). A pesquisa servirá para o monitoramento e a quantificação de fragmentos do novo coronavírus (SARS-Cov-2) presentes no esgoto coletado nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs).
Os dados obtidos farão parte do estudo realizado pela Rede Monitoramento Covid Esgotos, da qual a Caesb faz parte como parceira da Universidade de Brasília (UnB). O objetivo é expandir e compartilhar informações para o enfrentamento e a prevenção à pandemia de Covid-19. A organização institucional cabe à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estações Sustentáveis de Tratamento de Esgoto (INCT ETEs Sustentáveis).
Realizado desde abril de 2020 em Belo Horizonte, o projeto piloto para a coleta de amostras de esgoto bruto foi ampliado para mais cinco capitais: Brasília, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro e Recife. No DF, a Fundação de Apoio à Pesquisa (FAPDF) - instituição que apoia e promove pesquisas em ciência, tecnologia e inovação - liberou R$ 98,8 mil para o financiamento dos trabalhos.
O diretor-presidente da FAPDF, Marco Antônio Costa Júnior, celebra a iniciativa que irá oferecer dados importantes e subsidiar as ações de combate e controle à pandemia. “Vamos criar um mecanismo de alerta precoce das autoridades sanitárias quanto à possibilidade de novos surtos com base na análise dos esgotos”, afirma.
As análises serão feitas nas amostras coletadas semanalmente em oito ETEs que atendem 80% da população do DF e englobam grande variedade de perfis socioeconômicos: Brasília Sul e Norte, Melchior, Samambaia, Gama, Planaltina, São Sebastião e Riacho Fundo. Coletas no Aeroporto Juscelino Kubitscheck e na Rodoviária do Plano Piloto podem ser realizadas, pelo grande e constante fluxo de pessoas. As análises qualitativas serão feitas nos laboratórios da UnB.
Com os resultados do estudo, serão quantificados e monitorados os fragmentos do novo coronavírus no esgoto bruto. Dessa forma, durante a pandemia, será possível avaliar a evolução/involução dos casos nas regiões atendidas pelas estações de esgoto. Após a pandemia, o monitoramento também vai poder alertar sobre a possibilidade de novos casos.
Caesb
Na Caesb, três empregados estão participando ativamente no projeto. O trabalho de articulação institucional junto às demais instituições envolvidas, consolidação e divulgação dos resultados é realizado pelo superintendente de Projetos Especiais e Novos Negócios da Caesb, Fuad Moura Guimarães Braga. A logística das coletas das amostras de esgoto é responsabilidade da superintendente de Operação e Tratamento de Esgotos, Ana Maria do Carmo Mota. A consolidação das análises realizadas em laboratório será feita pelo superintendente de Gestão Operacional, Luiz Carlos Hiroyuki Itonaga. Esse grupo participa de reuniões mensais com a equipe da UnB para planejamento e avaliação das atividades realizadas.
Segundo Fuad, a Companhia tem amostras coletadas e devidamente conservadas desde setembro de 2020, o que permitirá a análise dos fragmentos virais do coronavírus e a geração de informações para as autoridades de saúde. “Temos expectativa de obter os primeiros resultados analíticos do DF ainda no primeiro semestre de 2021. Os recursos obtidos via FAPDF nos permitem realizar análises e produzir dados por até 18 meses”, explica.
A professora do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB, Cristina Brandão, detalha que os estudos serão conduzidos pelo Instituto de Química e pelo Programa de Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos da universidade. “A Caesb é mais do que uma parceira, a Empresa faz parte desse projeto”, elogia.
Webinar
No dia 16 de abril, foi realizado o webinar Monitoramento do esgoto como ferramenta de vigilância epidemiológica no Brasil: do projeto piloto para a Rede Monitoramento COVID Esgotos.
O evento contou com a participação de Carlos Chernicharo (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - INCT ETEs Sustentáveis), Thaís Cavendish (Ministério da Saúde), Oscar Cordeiro Netto, Marcelo Cruz e Sérgio Ayrimoraes (ANA).
No encontro, foram apresentadas as lições aprendidas com o projeto piloto em Belo Horizonte, tendo como maior destaque o alerta precoce que o monitoramento do esgoto pode fornecer. Sobre o trabalho desenvolvido pela Rede, a ANA disponibilizou o Boletim de Apresentação das seis capitais (Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro) que integram os pontos de monitoramento do coronavírus nas redes de esgotos.
A divulgação dos resultados da Rede Covid Esgotos será realizada por meio de Boletins de Acompanhamento, mensais ou quinzenais. A partir dos resultados obtidos por meio das análises laboratoriais, que indicarão as concentrações do material genético do SARS-CoV-2 nas amostras, serão elaborados gráficos e mapas georreferenciados para possibilitar a visualização espacial e temporal da ocorrência do vírus nos diferentes pontos amostrados.
Histórico
Nos últimos 10 anos, a Caesb realizou diversos estudos sobre a epidemiologia do esgoto. Um dos projetos trata do consumo de drogas ilícitas a partir de coletas nas estações de tratamento de esgotos. É uma parceria entre a Caesb, a UnB e as polícias Federal e Civil do DF, além do Ministério da Cidadania e do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA).